quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Comprando um Chevette

Enfim chegou a hora de comprar um Chevette. Já tinha desistido de comprar um modelo "tubarão" pois, como dito no post inicial, o preço praticado na época era muito alto se comparado ao estado real dos carros. Sempre há muita maquiagem e coisas pra fazer, principalmente aquelas que só se descobre depois de alguns quilometros rodados.

Achei o modelo abaixo, à venda no Feirão de Taguatinga - DF, atrás do shopping. Era literalmente "fim de feira" e o vi saindo. Parei na hora, dei ré no meu carro e abordei o dono. Trata-se de um ano/modelo 1993 e estava no segundo dono, que comprou-o apenas para revender, sem mesmo passar para seu nome. Arrematei:


O carro estava impecável, com apenas um defeito mais crítico e visível: painel trincado (coisa comum de Chevette que fica ao sol). Esse, nem insulfilm possuía. Até o tecido colorido dos bancos era original, sendo apenas a parte preta, de trás, substiuída.

Aproveitando, passo minha dicas para quem vai comprar um Chevette, porém serve para quase todos os outros carros:

1. Lataria: checar se há ondulações, variações de cor, parafusos que não deveriam estar pintados ou com marca de desgaste (olhe no cofre do motor, suporte dos paralamas, portas, etc), adesivos originais retirados ou pintados, borrachas de vidro ou vedações com marcas de tinta, amassados escondidos sob parachoques (olhe por baixo) ou peças pintadas a mais, como retrovisores, maçanetas ou tambores de chave. Isso é sinal de preocupação, principalmente se o vendedor alegar que é tudo original. O famoso banho de tinta é menos grave, visto que busca apenas recuperar uma pintura queimada ou com riscos leves, mas não confunda com pintura necessária para esconder serviços de funilaria.
2. Motor:
2.1. Vazamento: primeiro olhe se há vazamentos de qualquer tipo (água ou óleo). Motor muito limpo também é suspeito, então ande bem com o carro, deixe esquentar e verifique qualquer mínimo sinal de vazamento. Muita sujeira pode esconder propositalmente os vazamentos, pois o pó acumula-se por cima e também indica a quanto tempo o cofre do motor não passa por um check-up básico. Nível de água baixo ou contaminado com óleo é problema que pode ser sério, muito sério. Óleo com aparência de café com leite indica contaminação com água, mas geralmente só aparece se for veirificado logo após o motor ser desligado. Nível baixo de óleo é mais um sinal de dono relapso e motor com vazamento. Lembre-se: água e óleo também podem vazar para dentro do motor (cilindros, carter). Não é fácil detectar, somente com o tempo e depois de algumas dezenas ou centenas de quilometros, mas com certeza a suspresa será desagradável.
2.2. Ruídos: qualquer barulho de batida interna, como se houvesse folga, é sinal de desgaste e pode estar no limite de parar seu motor devido à quebra ou travamento de alguma parte móvel (válvulas, comando, virabrequim, pistão, biela, etc). Motor com escapamento barulhento prejudica essa análise, então, fique atento.
2.3. Peças não originais: peças amassadas, como tampa de válvulas, colméia do radiador, suportes, tampa do filtro de ar, ou peças de outros carros/modelos indica que houve algum problema mais sério ou economia onde não deve-se. Reservatórios de expansão (de água do radiador), caixa do filtro de ar, mangueiras não originais ou falta de algumas proteções, como da correia dentada, indicam descuido. Fuja disso.
2.4. Potência: está acostumado com o carro? Achou fraco o carro avaliado? Fuja. Pode sinalizar vários problemas, dos mais simples, como um carburador sujo, até mais sérios, como folgas internas grandes, carbonização excessiva, ineficiência do sistema de alimentação, restrição no escapamento, etc. A lista de possíveis causas é grande, só não queira descobrir depois.
3. Internamente: evite comprar um Chevette com peças de acabamento não originais, a não ser que seja de seu gosto pessoal. É comum trocarem bancos, volante, alavancas e até painel. Se chegou nesse ponto, a maioria foi porque a peça destruiu-se e o dono anterior colocou a mais barata ou fácil de achar. Peça original é quase sempre mais cara, então usam o artifício da personalização para justificar as alterações. Isso pode inclusive colocar sua vida em risco, pois nem sempre as adaptações são bem feitas e um banco ou volante pode soltar-se a mais de 100 km/h.
4. Suspensão: atenção se o carro estiver "desnivelado". As molas arriam com o tempo, mas se o dono não teve o cuidado de trocá-las, com certeza também economizou em várias outras coisas. As borrachas da suspensão não são baratas (em torno de R$250 + mdo), mas provocam desalinhamento e desgaste prematuro dos pneus e suspensão, além dos barulhos normais causados pela folga. Balance o carro e, se ele não parar imediatamente, os amortecedores já não fazem efeito.
5. Diferencial: atenção quanto aos ruídos. Muitos donos de Chevette nunca ouviram dizer que existe óleo lá dentro... quer dizer que também nunca leram o manual.
6. Freios: ruídos anormais, sujeira excessiva nas rodas (pó preto) e frenagem desigual indicam problemas. Pode ser desde desgaste das pastilhas até problemas no servo-freio. Isso é segurança e não deve-se deixar em segundo lugar.
7. Geral: veja a integridade de todos os sistemas elétricos e mecânicos, certificando-se do correto funcionamento. Alguns itens a serem testados: máquinas de vidro, folgas no volante, tampas de porta-luvas, porta-malas e cinzeiro, retrovisores externos e interno, alavancas dos bancos, botões do painel, itens do porta-malas (estepe, macaco, triângulo e chave de roda), etc. Gaste tempo nessa análise. Cada detalhe desse pode causar um prejuízo enorme com o tempo.
8. Escapamento: limpo demais é estranho, pois ninguém limpa por dentro, a não ser que queira apagar algum problema ou apodrecê-lo mais rápido. Marcas de óleo mostram problema vindos do motor. Excesso de água também é sinal de água vindo do motor e não apenas resíduo do álcool.
9. Sensações: ande com o carro. Se sentir algo estranho, que podem ser barulhos, cheiros de algo queimado ou combustível, um balanço anormal, desconforto... siga seus presentimentos e gaste mais tempo e procure outro carro. Já entrei em muita fria ao não levar minha impressão em conta.
10. Documentação: exija tudo OK e confirme num despachante. Nem sempre a internet fornece todas as informações necessárias.

Bom, esse é um roteiro básico. Para Chevette, assim como para qualquer outro carro antigo, fique atento à originalidade e manutenção do veículo. Sinais de alterações mecânicas, elétricas e grandes serviços de funilaria devem ser evitados. Ainda há vários exemplares no mercado em bom estado e a pressa não justifica levar problema pra casa.

Vale ouro um carro com o manual do proprietário, histórico das manutenções, adesivos ainda intactos em seus lugares originais, frisos bem cuidados, motor com sua cor original (depois falo mais sobre isso), cofre do motor limpo, painel com tudo funcionando, enfim... quanto mais original, considero mais valioso.

Espero ter ajudado e, precisando de qualquer dica, é só perguntar!

P.S.: meu Chevette não possuía qualquer anomalia relatada acima, exceto pelo painel trincado. Quando o comprei, ainda troquei os faróis por outros originais, pois os que estavam nele apresentavam perda de parte do cromo interno. Também troquei as 4 molas e amortecedores, pois já estavam dando sinais de desgaste.

2 comentários:

  1. Cara, que massa. Esse Chevette é exatamente igual ao meu, comprei em condições impecáveis. Apenas uma coisa me deixou desanimado, ele possui apenas as calotinhas traseiras originais e é muito difícil conseguir essas calotinhas na minha região. A única modificação que o carro possuía é em relação ao tecido dos bancos que não é o original, fora isso é impecável e o painel em perfeitas condições! Motor com 80 mil km originais e com manutenções em dia! o/
    Carro perfeito! Já viajei algumas vezes com ele tranquilamente :D

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  2. Douglas, hoje em dia já temo vários canais para procurar essa calotinhas, como o Mercado Livre, Jocar.com.br e, principalmente, pelo Facebook. Pode procurar, pois com certeza irá achar num preço razoável.
    Quanto ao meu carro, por incrível que pareça, nunca viajei com ele. Por outro lado, são pelo menos 50km diários, faça chuva ou faça sol, com congestionamento ou não, rápido ou (raramente) devagar. Eita carrinho bão!

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